terça-feira, 24 de julho de 2018

Aniversário Tenebroso

Dia 13 de fevereiro de 2015 - Data para nunca mais esquecer.

Tento me lembrar o início da manhã, teimosamente o meu cérebro não me visualiza, pois fica focando os momentos terríveis que passei naquele dia - meu aniversário - Que belo presente!
O que me lembro é de um dia quente, como um dia qualquer de verão de fevereiro. Sexta-feira, 13, meu aniversário; isso me cutucava quase o dia inteiro. Entretanto o dia passara que quase incidente e intimamente respirava aliviado.
A noite se aproximava cândidamente não oferecendo qualquer perigo aparente. Encerrei o meu expediente (sou profissional liberal e tenho ou melhor, tinha um home oficce), desliguei tudo, deixando tudo organizado e fui para outro imóvel para outros afazeres e liguei a televisão me sentei na cadeira ficando relaxado, naquele momento estava passando as cenas de uma novela, quando repentinamente vieram os estrondos e os raios riscando raivosamente o céu negro. Não dei muita importância e voltei a fixar minha atenção as imagens, escutei a água desabando com uma certa violência acompanhada dos ventos e naturalmente as trovoadas e os raios iluminando o céu. Trovoada passageira - pensei - Ledo engano ela continuava ainda mais forte, foi quando escutei um estrondo. Saí da minha zona de conforto e corri em direção a sala, vi a água entrando por baixo da porta e sai em direção à cozinha vi a água cobrindo o piso da cozinha e nesse exato momento, o muro de arrimo de aproximadamente 4 metros de extensão por 1,80 de altura, desabou e em questão de segundos, a enxurrada veio para cima de ontem eu estava.
A onda furiosa de aproximadamente 1,50 tentou me derrubar. Fixei as pernas no solo, como se tentando enraizar no piso da pequena sala. O impacto, me causou sérias dores nas costas, só fui sentir no outro dia.
Sai correndo e fui para frente do imóvel, pois precisava abrir o portão. Outra luta aconteceu, tentava abrir e a corrente de água me impedia, busquei forças onde já não possuía conseguindo abrir a saída. Só que isso me deu um custo, ao tentar segurar o portão (3,10x1,80), a fúria arrancou de minhas mãos lançando-o, para o outro lado da rua.
Voltei o meu olhar para os veículos estacionados na garagem (um Picasso e uma Falcom), saí em busca de algo que pudesse proteger o motor. Logrei êxito, ao colocar uma folha de uma veneziana (1,20x1,00), o suficiente para proteger o motor da moto, pois a moto estava em sentido atravessado em relação ao carro. Segundo especialista, fiz a coisa correta.
Resolvi então, ir até o ponto inicial da destruição e vi a geladeira boiando vindo em minha direção, percebi que eu precisava evitar que ela viesse para frente, pois iria passar pelo corredor e consequentemente causar estragos nos veículos.
Segurei a dita e empurrei contra correnteza, novamente busquei forças além das minhas e exprimi gritos poderosos, desafiando,naquele momento, as forças da correnteza, conseguindo levar a geladeira para onde que eu queria.
Após esse ato, nada mais restou senão ver a cena  de destruição. Fiquei estático, inerte, impotente e muito abatido. Houve várias manifestações de solidariedade, curiosos e "turistas".
No entanto, o meu estado de espírito me permitia controlar a situação ante tamanha desgraça.
A chuva continuava a castigar, estranhamente não me sentia destruído ou derrotado. O meu semblante era sereno, suave e firme.
E.. pensei que belo presente de aniversário recebera naquele dia que completara 6 décadas de vida.
Tudo que conquistara ao longo dos anos, em questão de horas, foi-se por água abaixo. No dia seguinte, vi o estrago causado pela fúria da natureza. E naquele pequeno trecho parecia que houvera uma guerra. Me resignei a vontade de Deus e segui em frente, tentando recuperar o que perdi. E até hoje há ainda o resquício e trauma daquela noite fatídica. Qualquer ameaça de trovoada, fico alerta, e não consigo dormir até que não haja sinal de trovoadas. Muito embora, tenha reforçado o muro de contenção, entretanto a preocupação continua.